Projeto de tratamento de varizes com espuma completa cinco anos com mais de 17 mil procedimentos realizados

Técnica permite que o paciente seja tratado em regime ambulatorial sem a necessidade de internação hospitalar

Muito além de uma questão estética, as varizes podem comprometer a qualidade de vida devido às limitações em atividades diárias, como a capacidade de subir escadas, andar e até trabalhar por causa de sintomas como peso e dor nas pernas, inchaço e queimação. Além disso, varizes mais calibrosas podem causar lesões que alteram a coloração e a consistência da pele e feridas abertas, que, além de um quadro de infecção, podem gerar um estigma social. Ao longo dos últimos cinco anos, o Projeto Espuma do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), tem auxiliado quem sofre com este problema e já beneficiou mais de sete mil pacientes.

Dr Carlos Eduardo Virgini – chefe do Serviço de Cirurgia Vascular do Hupe-Uerj

“A espuma é uma técnica que tem pouco tempo no Brasil. Em 2015, começamos a fazer uma curva de aprendizado, ainda quando o SUS não cobria este procedimento. Em 2017, o SUS criou um código para o tratamento de espuma (que na tabela é denominado tratamento esclerosante não estético unilateral e bilateral de varizes dos membros inferiores). Como já tínhamos uma base pronta, começamos de fato um projeto de extensão”, explica Carlos Eduardo Virgini Magalhães, chefe do Serviço de Cirurgia Vascular do Hupe-Uerj e coordenador do projeto. Desta forma, oficialmente criado em maio de 2017, o Projeto Espuma funcionou primeiro na Policlínica Piquet Carneiro (PPC-Uerj) , mas atualmente está instalado no prédio do Centro de Pesquisa Clínica Multiusuário (CePeM), no campus do Hupe.

O método de tratamento de varizes com espuma não necessita internação e o paciente pode realizar suas atividades normalmente após a aplicação

O Serviço de Cirurgia Vascular do Hupe-Uerj responde por cerca de 85% de todas as vagas de ambulatório do Estado do Rio de Janeiro para o tratamento de varizes. A fila no município do Rio de Janeiro está em torno de três mil pessoas. Porém, se antes havia uma espera de cinco anos, hoje, com a atuação do projeto, o paciente espera cerca de 90 dias para atendimento. De acordo com Carlos Eduardo Virgini, a ampliação de consultas se deve á própria estrutura do projeto. “A grande vantagem do projeto é tratar o paciente do início ao fim. O projeto foi estruturado para isso. O paciente vem pelo sistema de regulação, faz a primeira consulta, marcamos o exame de Ecodoppler, que também é feito aqui, e quando ele sai do exame já está com a data marcada para fazer o procedimento”. Em outros locais de atendimento, muitas vezes, é necessário que o paciente retorne ao sistema de regulação para marcação de exames e aguarde mais um tempo.

No Hupe, os pacientes têm atendimento completo, desde os exames até a aplicação da espuma

O QUE É ESCLEROTERAPIA  – O método de escleroterapia com espuma densa consiste na localização da veia por meio de ultrassom e injeção do medicamento em forma de espuma, que faz com que a veia seja fechada e o sangue redirecionado, melhorando a circulação sanguínea. É um procedimento menos invasivo que não requer anestesia e que oferece rápida recuperação. Além disto, pode ser feito em pacientes mais idosos e casos de varizes médias e grossas, além de úlceras venosas. “É um tratamento ambulatorial que não tem corte e pode ser realizado diversas vezes. O que é importante na doença venosa, as varizes, pois elas recidivam; ou seja, daqui a cinco anos você pode ter outras varizes. Não volta a mesma coisa, mas sempre volta. Mas a espuma funciona muito bem repetidas vezes”, especifica Virgini.  Ele também enfatiza que é mais indicado o tratamento com espuma para pacientes com grau avançado da doença, com úlcera, pele escurecida e outros sinais de gravidade. “A única desvantagem é que não é um procedimento estético pelo SUS, ou seja, não tratamos os vasinhos das varizes por uma questão estética. Tratamos quem tem doença, quem tem sintoma de cansaço, varizes calibrosas, a perna inchada… muitos têm ferida na perna. Então, esse é o foco do tratamento dentro do SUS”, destaca.

O aposentado Luiz Raimundo Araujo foi encaminhado pela clínica da família para ser tratado no Hupe

PERFIL DOS PACIENTES – Os pacientes no Projeto Espuma têm em média 59 anos, dois terços são do sexo feminino e mais de 60% já sofre com a doença há mais de 10 anos. O aposentado Luiz Raimundo Araujo, de 65 anos, é uma das pessoas atendidas. Há mais de duas décadas, ele sofre com os transtornos causados por este problema vascular. “Eu já tive uma úlcera varicosa em função das varizes e é muito ruim a ferida. Tenho dores na articulação dos pés e dos joelhos também. Fica muito difícil para andar. Eu procurei o tratamento para ver se melhora isso. Depois que eu comecei o tratamento diminuiu bem as câimbras que eu sentia nas pernas. É um tratamento mais suave, não causa muita dor ”, relata Luiz Raimundo

Com uma equipe composta por médicos, residentes, enfermeiros e assistentes administrativos, o Projeto Espuma vai além missão assistencial à população do Estado do Rio de Janeiro. “Uma coisa que é muito interessante: é que desenvolvemos pesquisa e extensão a partir de um projeto que é assistencial”, ressalta Virgini. “Tem dois médicos que já fizeram mestrado com as informações coletadas pelo projeto e, na extensão, que é uma outra área dentro da nossa Universidade, oferecemos cursos para treinar outros médicos para fazerem o tratamento de espuma e ensinar a usar o Doppler. E desta forma, temos até dois cursos por ano para profissionais de fora da universidade, que vem inclusive de outros estados para aprender a técnica e replicar em suas cidades”, conta o médico.

A genética é a principal causa das varizes, mas ficar em pé parado ou sentado por muitas horas também contribui para o problema