Estudo realizado no Hupe identificou que o confinamento devido à pandemia da Covid-19 influenciou os hábitos alimentares de adolescentes, induzindo ainda a outros riscos.

Eles têm em média 15 anos e estão em plena descoberta da vida. Para este público que passa pelo auge da adolescência, enfrentar a pandemia de Covid-19 e principalmente o isolamento social, mais efetivo no início do surto da doença, caracteriza-se como um processo bastante desafiador. Diante deste cenário, e pensando nos impactos e ressonâncias aos adolescentes, o Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (Nesa) do Hupe-Uerj desenvolveu um estudo, intitulado “Estado emocional e alterações no comportamento alimentar de adolescentes durante o isolamento devido ao COVID-19” (Adolescents Emotional State and Behavioral and Dietary Habit Changes during Isolation Due to the COVID-19 Pandemic). O objetivo foi avaliar o comportamento dos adolescentes acompanhados durante o período de isolamento. O resumo do trabalho foi publicado na última semana de junho, no Journal of the American College of Nutrition.

O estudo foi feito por uma equipe multidisciplinar do Núcleo que envolve nove profissionais. Uma das pesquisadoras é a médica Cristiane Murad que gerencia o atendimento aos adolescentes no Núcleo. Ela ressalta ainda que o trabalho é resultado do esforço da equipe interdisciplinar que, apesar da pandemia, conseguiu se unir e concretizar esse estudo com os adolescentes. Ela destaca que o objetivo foi entender as principais demandas desta população. “A ideia é propor medidas de prevenção de agravos e promoção de saúde para os adolescentes neste período de pandemia; priorizando a necessidade de uma alimentação saudável, a importância da prática de atividades físicas, redução do tempo de tela e a qualidade das relações familiares”, resume Murad.

DADOS DA PESQUISA – Os dados da pesquisa foram obtidos por meio de questionário digital, enviado por aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas. Responderam o questionário 208 adolescentes, com média de idade de 15 anos, 58% do sexo feminino. Cerca de 93 % dos adolescentes afirmaram estar isolados com mudança de rotina, 67% aumentaram o consumo alimentar, 86% estavam inativos, e 58% relataram tempo de tela superior a oito horas/dia. Em relação às mudanças de comportamento alimentar durante o confinamento, os adolescentes relataram o aumento do consumo principalmente de pão/biscoitos (47,1%); hambúrguer, pizza e salgadinhos (41,8%); refrigerante, suco e guaraná natural (32,2%), sendo mais frequente no sexo feminino.

ALIMENTAÇÃO, DROGAS E ALCOOL  – A nutricionista Denise Giannini, que é a coordenadora do estudo, explica que a análise evidenciou ainda uma associação significativa entre ansiedade e aumento do consumo de alimentos, dificuldade para dormir e relacionamento familiar conflitante. A frequência do uso de drogas também foi examinada neste estudo. Cerca de 9,6% dos adolescentes faziam uso de algum tipo de droga, sendo o álcool o mais frequente (6,7%). “Podemos concluir, com esse estudo, que o isolamento social por doença infecciosa esteve associado a diversos efeitos sobre o comportamento do adolescente, especialmente no comportamento alimentar, os quais precisam ser reconhecidos para incentivá-los a uma vida saudável”, destacou Giannini.

Confira a pesquisa publicada em:

https://www.tandfonline.com/eprint/5DMKS5USZ2V6HDT2TQDJ/full?target=10.1080/07315724.2021.1897899

Adolescents Emotional State and Behavioral and Dietary Habit Changes during Isolation Due to the COVID-19 Pandemic

Autores: Denise Tavares Giannini, Cristiane Murad Tavares, Marcia Takey, Marta Lourenço Rolla Aloise, Andreia Jorge da Costa, Dayse Silva de Carvalho, Selma Correia da Silva, Marcos Henrique Pereira Pontes e Cláudia Braga Monteiro

Por Comhupe