Vitiligo: contagioso só o preconceito

A doença pode acontecer em qualquer parte do corpo, em qualquer fase da vida e com qualquer extensão e, apesar de não ser contagiosa, pacientes têm que lidar com o preconceito


Tácito Beserra descobriu o vitiligo aos 60 anos e, desde de 2017, faz tratamento no Hupe

Uma doença que surge na pele e causa a perda gradual da pigmentação. Assim é o vitiligo, que pode começar como uma pequena manchinha de tonalidade diferente que surge em alguma parte do corpo e, com o tempo, pode se espalhar ou se concentrar somente em um lugar. A dermatologista Luna Azulay, chefe da Unidade Docente Assistencial de Dermatologia do Hupe, explica que existem várias formas da doença; que pode ser classificado como vulgar, focal e segmentar. “O vitiligo chamado vulgar é caracterizado por manchas brancas leitosas, muito brancas. Essas manchas, que chamamos de acrômicas, podem acontecer na face e em regiões de atrito, como mãos, pés, genitália e eminências ósseas. Já o vitiligo focal é quando ocorre em algum lugar específico; de mucosa. E nas crianças é muito comum o vitiligo chamado segmentar, que pega o trajeto de um nervo”, esclarece Luna Azulay.

O vitiligo pode surgir em qualquer idade, mas apesar de também afetar crianças, a doença é mais comum em adultos. Acredita-se ter relação com problemas autoimunes e o histórico familiar é um fator de risco para a doença. “Outro aspecto importante é que, muitas vezes, a pessoa sofre algum trauma psíquico, como por exemplo: a perda de um parente, não passar em uma prova…algum motivo muito intenso. E este fator pode também desencadear o vitiligo”, completa a dermatologista.

Com casos na família e tendo também passado por situações de estresse emocional, o aposentado Tácito da Silva Beserra, de 64 anos, descobriu a doença há cinco anos. “Nas minhas férias, em janeiro de 2016, eu estava viajando e percebi as minhas cutículas muito branquinhas. A minha esposa também notou e, de repente, me deu o estalo de que poderia ser vitiligo porque, quando eu era bem garoto, eu conheci dois tios que tinham. E também em um irmão meu, que hoje tem 70 anos, surgiu o vitiligo com 35 anos de idade. O meu irmão eu sei que teve um aspecto emocional; já nos meus tios eu não sei a história”, recorda Tácito. Ele ressalta que no seu caso, o estresse emocional pode ter sido o desencadeador. “Em 2014 eu perdi pai, mãe e uma irmã que eu era muito ligado. Em 2016, meu único filho casou. Então veio a síndrome do ninho vazio… e a gente não percebe, mas isso vai se acumulando”, conclui ele que vem fazendo o acompanhamento clínico no ambulatório da Dermatologia do Hupe.

Fototerapia utiliza radiação PUVA ou UVB de forma controlada para beneficiar o paciente

TRATAMENTO – Os tratamentos para vitiligo podem desacelerar a doença. Atualmente, há muitas opções que devem ser orientadas por um dermatologista de acordo com o tipo e extensão. Por exemplo, o vitiligo segmentar não costuma ir para outras partes do corpo, porém é mais resistente ao tratamento. Já, segundo Luna Azulay, o vitiligo da face é uma doença relativamente simples de tratar no qual pode se utilizar dois tipos de pomadas e, em geral, é uma área que “repigmenta” bem. Além disto, se o vitiligo é rapidamente progressivo, pode ser indicado o uso de corticoide oral. No caso de a doença estar estável há mais de um ano, o transplante de melanócitos (células responsáveis pela fabricação de melanina), que é uma terapia cirúrgica, pode ser recomendado.

Os portadores de vitiligo têm ainda um grande desafio para lidar: o preconceito. É importante ressaltar que ele não é contagioso, ou seja, não passa de uma pessoa para outra. No entanto, muitas vezes por falta desta informação, algumas pessoas ainda tem medo de chegar perto de quem tem vitiligo e isso pode levar a uma desestruturação emocional do portador da doença, afetando a qualidade de vida e a autoestima.

 

TRATAMENTO HUPE – A fototerapia é uma modalidade terapêutica utilizada, seja como tratamento único ou coadjuvante, em doenças como vitiligo, micose fungoide e psoríase. No Ambulatório de Fototerapia do Hupe são atendidos mensalmente, cerca de 30 pacientes com vitiligo, além de pacientes com outras enfermidades. “Nós temos há muitos anos aqui no Serviço de Dermatologia do Hupe um setor de fototerapia com UVB e UVA. São dois dias semanais de tratamento para cada paciente e nós recomendamos que no fim de semana o paciente pegue um pouco de sol também” explica Azulay. Ela ainda enfatiza que no local, as pessoas se reúnem na sala de espera e no local se apoiam mutuamente e fazem algumas atividades coletivas. “Muitas vezes, a gente pode não conseguir resolver a mancha na pele, mas conseguimos acolher a pessoa e ela não se sente tão sozinha”, conta a especialista.

Em tratamento com a fototerapia no Hupe desde 2017, Tácito Beserra concorda que a relação de amizade criada entre os pacientes é um ponto muito positivo. “O tratamento aqui tem os dois aspectos, tanto da repigmentação, da restauração da pele, quanto o aspecto psicológico. Você lida com pessoas que estão passando pelo mesmo problema, que estão buscando o mesmo objetivo, cria um grupo de amigos. Isso é bom, compartilhar, conviver”, ressalta.

O setor de fototerapia do Serviço de Dermatologia do Hupe recebe pacientes com vitiligo, além de outras doenças


Por Comhupe