
A pedagoga Ana Carolina Fonseca tem 29 anos. Há 25 ela convive com sintomas como falta de ar, tosse e alergia. Características das crises de asma que sempre acompanham o início do inverno e que já a levaram à emergência de vários hospitais até aprender a controlar a enfermidade. Observação clínica e medicamentos foram seus únicos aliados contra a doença crônica que não dispõe ainda de uma cura, mas que já conta com opções eficazes de controle. Para alertar aos quase 20 milhões de brasileiros asmáticos, o Ministério da Saúde definiu 21 de junho como Dia Nacional de Controle da Asma. A data marca o início da estação mais fria do ano e mais preocupante para quem lida com a doença.

“A asma é uma doença extremamente prevalente na nossa população. O Brasil é um dos dez países com maior numero de casos no mundo. Então é uma doença a qual precisamos estar muito atentos”, destaca o pneumologista Thiago Bartholo, chefe do ambulatório de Asma Grave da Pneumologia que atende pacientes encaminhados ao Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe-Uerj) e à Policlínica Piquet Carneiro (PPC). Assim como Ana Carolina, muitos aprenderam a lidar com a asma e controlá-la. “Desde que me entendo por gente tenho asma. E desde pequena vivo em ambiente com controle de poeira, evitando, por exemplo, bichos de pelúcia. Além disso, faço uso de medicamentos que sempre me acompanham”, relata a pedagoga que descobriu ainda criança a importância de observar os fatores que podem desencadear as crises asmáticas.
DIAGNÓSTICO – Bartholo expõe que o diagnóstico precoce é fundamental. Mas nem sempre é fácil. Um chiado na respiração, um quadro alérgico, tosse… sintomas simples mas que tendem a definir a doença. Segundo o médico, a asma pode abrir, ou seja, ser diagnosticada, em qualquer idade. “Porém só conseguimos definir de fato a partir dos três anos. Crianças que, por exemplo, tem bronqueolite antes desta idade possuem maior propensão a ter asma”, diz o médico. Em relação aos fatores de risco, o especialista destaca um dos cenários mais perigosos para os pequenos: a exposição ao tabagismo. “É um grande risco para a asma”, aponta.
Um dos desafios é fazer com que a própria família compreenda a asma como enfermidade que tem outros componentes sistêmicos associados. “Muitas vezes o quadro está relacionado a outras doenças. Parte dos pacientes tem componentes atópicos. Por isso a asma pode ser acompanhada de rinite, rinosinusite, dermatite atopica, alergia alimentar”, exemplifica o especialista.
TRATAMENTO PERMANENTE – Após o diagnóstico, vem o que Bartholo identifica como segunda etapa: fazer com que o paciente entenda que a doença é crônica. Apesar da variação da intensidade das crises (forte em alguns momentos e outros menos intensa), o tratamento tende a ser contínuo. Ele grifa a necessidade de conscientizar muitos pacientes para usarem os remédio, mesmo sem sintoma. “O pilar de todo o tratamento é o corticóide inalatório. E o paciente tem que ter acesso e saber como usar as medicações inalatórias”, esclarece lembrando que o acompanhamento médico será permanente. Bartholo também faz questão de focar que a melhor medicação é aquela que o paciente tem fácil acesso; principalmente pelo SUS, e que ele saiba manipular, usar.
CONTROLE DE AMBIENTE – Outro ponto importante é o controle de ambiente. “Muitas vezes este é um fator que desencadeia a crise”, enfatiza o médico referindo-se a variantes como ter animais domésticos, viver em locais com tapetes e carpete, morar em área com infiltração, conviver com obra… Mas o pneumologista também alerta que não é só a disposição doméstica. Há também a exposição laborativa. “A asma pode ser ocupacional, relacionada ao trabalho, ou que piora com a ocupação. Por isso é fundamental entender como o paciente vive e como trabalha. Entender a vida dele como um todo”, ensina.
Exatamente por isso a asma é vista como uma doença complexa. Para Bartholo, ainda é preciso avançar muito principalmente no controle. Fazer mais diagnóstico e dar mais acesso e informação aos pacientes conscientizando-os é a chave para reverter o alto número de casos de asmas no país. Como diz Ana Carolina, “viver consciente da asma” é primordial para o quê Bartholo enxerga como maior desejo de quem acompanha a enfermidade de perto: “Que no futuro, a asma finalmente não tenha tanto impacto na vida dos pacientes”, finaliza.
Por Comhupe