Ambulatório do Hupe trabalha a prevenção e atenção à obesidade infantil

No dia 03 de junho é celebrado o Dia da Conscientização Contra a Obesidade Infantil. Conforme dados publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas no mundo estão obesas, sendo que mais de 30% delas são crianças ou adolescentes. A data pretende conscientizar a população sobre os cuidados necessários para combater esta desordem metabólica.


Prevenção é o primeiro passo para combater a obesidade infantil. Fiel a este princípio, o Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe-Uerj) mantém importante atuação na pesquisa e combate e prevenção à obesidade infantil. Fortalecido pela união da Medicina com a Nutrição, o Projeto Ambulatório de Pesquisa em Obesidade Infantil (Apoio) é realizado exatamente com esta finalidade: conscientizar, orientar e assistir a faixa etária de 2 a 11 anos.

Comunicação e parceria – profissionais se reúnem regularmente para troca de impressões e para que as condutas sejam traçadas em conjunto

Fundado em 2003, o Apoio materializa ensino, pesquisa e assistência em obesidade infantil com foco no tema excesso de peso e fatores de risco paradoença cardiovascular. A equipe acompanha crianças advindas do Ambulatório de Pediatria, e são realizadas pesquisas na temática. A iniciativa é fruto de parceria entre a Faculdade de Ciências Médicas (FCM- Uerj) com o Instituto de Nutrição (INu- Uerj). Além das unidades fundadoras, o Projeto Apoio tem parceria com a UDA de Radiologia-Hupe, o BioVasc-Uerj e o Telessaúde-Uerj, e está aberto a parcerias com as outras instâncias da Universidade interessadas no tema.

A assistência é prestada por uma equipe de médicos endocrinologistas e pediatras com área de atuação em endocrinologia e por nutricionistas infantis, com seus graduandos, residentes e pós-graduandos lato e stricto sensu. Os profissionais envolvidos entendem que a infância é momento fundamental para o desenvolvimento pleno e, neste processo é considerado também o protagonismo da família.

As ações visam fornecer as informações, os esclarecimentos e o apoio necessários para que a família vivencie e percorra esse caminho das fases do desenvolvimento e crescimento daquele indivíduo com o preparo necessário para a formação de um adulto saudável e livre das doenças do corpo e da mente.

Para mais informações sobre obesidade infantil, a Coordenadoria de Comunicação Social (Comhupe) conversou com a médica endocrinologista e pesquisadora em obesidade Fernanda Gazolla, que destacou cuidados e preceitos vitais para um desenvolvimento pleno da criança. 

Comhupe – Hoje, qual a real situação da obesidade infantil e quais as projeções futuras?

Fernanda Gazolla – Atualmente, a obesidade é a desordem metabólica mais comum do Ocidente. Estimativas globais recentes mostram que 170 milhões de crianças e adolescentes foram classificados com sobrepeso ou obesidade. Segundo informações da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), a Organização Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo poderia chegar a 75 milhões, caso nada seja feito.

Comhupe Hoje, crianças e adolescentes ficam muitas horas em frente ao computador e ao smartphone. Isso induz a uma alimentação inadequada, muito alimento calórico, falta de exercícios… Como vê essa situação e o que pode ser feito para mudar essa dinâmica?

Fernanda Gazolla – As novas mídias e tecnologias são parte integrante da vida atual e, a meu ver, como tudo em nossa vida, necessitam ser dosados na quantidade de horas que ocupam a vida cotidiana das crianças e adolescentes. Assim, tanto os educadores como as instituições devem limitar o tempo de uso dessas mídias e tecnologias, procurando utilizá-las mais no ambiente escolar e nas atividades em grupo de forma educativa, para que o tempo fora da escola seja aproveitado para a realização de atividades lúdicas, com maior contato com a natureza e que estimulem um estilo de vida mais saudável (alimentação e atividade física). A limitação do tempo de uso dessas novas mídias e tecnologias associada ao estímulo a um estilo de vida mais saudável são atitudes fundamentais na “luta” contra a obesidade infantil.

A médica Fernanda Gazolla (à direita), a nutricionista Cecília Lacroix (com a paciente) e a também nutricionista Mariana Rodrigues (à mesa) – equipe envolvida por uma causa: o desenvolvimento pleno das crianças

O valor da integralidade

Comhupe Acredita ser importante que crianças e adolescentes tenham um atendimento multidisciplinar?

Fernanda Gazolla – Não só importante, mas fundamental. E vou além… O atendimento não deve ser multidisciplinar e sim, interdisciplinar; quando todos os profissionais envolvidos fazem as suas avaliações, trocam suas impressões e traçam suas condutas em conjunto. Existe uma comunicação e uma parceria entre os profissionais que assistem àquela criança e adolescente, sendo a assistência feita de forma integral. A integralidade busca garantir ao indivíduo uma assistência à saúde que transcenda a prática curativa, baseando-se em ações de promoção, prevenção de agravos e recuperação da saúde, permitindo a percepção holística do indivíduo, considerando o contexto histórico, social, político, familiar e ambiental em que se insere. Quando essa integralidade se dá, a chance de sucesso e de conquistas com certeza é muito maior.

Comhupe Como, na prática do dia a dia, corrigir a alimentação?

Fernanda Gazolla – Hoje, sabemos que a alimentação de um indivíduo e de sua família faz parte do grupo de atitudes relacionadas ao comportamento, e a mudança de comportamento se viabiliza por meio da educação. A relação da criança e do adolescente com o alimento e com o ato se alimentar, será determinada pela forma que a família os habituou; e é nesse momento que a educação alimentar da família se faz de suma necessidade, pois a criança se espelha e reproduz os ensinamentos, comportamentos e exemplos que são dados pelos pais.

E em qual momento, e de que forma, a equipe interdisciplinar deve intervir para a correção? Desde o pré-natal da mãe, se estendendo após o nascimento a todas as consultas de acompanhamento de saúde daquela criança. A intervenção deve ser dada a todos os componentes da família e por meio da conscientização dos familiares e do exemplo de mudança na sua própria.

Somos o que comemos?

Comhupe Os grandes filósofos diziam “somos o que pensamos”. Dentro de sua especialidade clínica, é correto dizer que “somos o que comemos”?

Fernanda Gazolla – Como ressaltei anteriormente, a nossa atitude perante a comida está relacionada a um padrão de comportamento. E este comportamento alimentar está constantemente suscetível ao ambiente familiar, que, na infância, se não for assistido de forma preventiva, com certeza formará um adulto que “será o que comeu”.

Assim, na infância, período em que o intelecto, conforme ressaltado anteriormente, se encontra mais acessível ao aprendizado, podemos mudar o curso dessa filosofia, pois estes “pequenos”, ainda “estão o que comem”. Daí, em nosso Ambulatório, as ações de Nutrição, coordenadas pela professora e pesquisadora Cecília Lacroix, também terem papel vital nos atendimentos. Saúde e nutrição caminham juntas.

Comhupe Como vê hoje nossa sociedade e o que precisamos para um futuro mais consciente?

Fernanda Gazolla – Vejo uma sociedade como um barco que se encontra à deriva no “mar”, que é a vida. E que necessita da orientação dos “marinheiros”, que são as relações educativas, para que alcance o destino final, que é a mudança dos padrões de comportamentos que nos levam ao adoecimento do corpo e da mente.

Precisamos da educação dos nossos padrões de comportamentos por meio de relações educativas pautadas na oferta do conhecimento, compartilhamento de experiências, na disciplina, ética, respeito a nós mesmos e ao próximo. Em todos os campos. E refletir constantemente: que exemplo estamos gerando às futuras gerações?