O que a saúde tem a ver com a sustentabilidade e a esperança? Diríamos que tudo! Embora a relação não se apresente tão óbvia à primeira vista, todas as decisões e iniciativas, por mais simples que pareçam, impactam não apenas a saúde do indivíduo, mas também das sociedades e do planeta. No Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Nesa/Uerj), uma recente iniciativa, a criação de uma pequena horta, possibilitou perceber o valor desta saudável integração.
Plantando não apenas mudas, mas sobretudo a esperança em dias melhores, dois terceirizados da empresa Verde, prestadora de serviços do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), os funcionários Damião da Silva Conceição e Anderson da Silva Teodoro, ambos auxiliares de Serviços Gerais, por iniciativa própria, tiveram a ideia de melhorar o espaço externo do Pavilhão Floriano Stoffel, onde é realizada a atenção secundária no Nesa. Então, esperançosos em melhor utilizar o espaço, e alimentados por ideias de saúde e sustentabilidade, os funcionários capinaram e arrumaram toda a área, e criaram uma horta.
Damião estudou botânica, tem interesse em cursar Agronomia, daí o comprometimento neste sentido. Anderson, seu companheiro de serviço, prontamente acolheu a ideia e foi parceiro na missão de dar vida a uma horta. A ação denota também, por parte dos terceirizados, um sentido de união, integração e comprometimento para com melhorias do hospital universitário. Os dois realizaram uma área de compostagem. No local, já estão sendo cultivados alguns legumes e hortaliças. “Fiquei muito orgulhosa desta iniciativa deles. Ela nos traz esperança em meio às tantas turbulências atuais. E estamos estudando maneiras de envolver os adolescentes no cuidado da horta”, afirma a médica de adolescentes Cristiane Murad, coordenadora da atenção secundária do Nesa.
Conhecendo o núcleo
A horta gera então a possibilidade de contextualizar o Nesa, unidade docente-assistencial que compõe parte do Complexo de Saúde da Uerj, com relação à sua estrutura de atenção à saúde de adolescentes. Uma equipe multidisciplinar integra o Serviço. São atendidos, nos três níveis de atenção – primária, secundária e terciária -, adolescentes na faixa de 12 a 18 anos. Há ambulatórios de diversas especialidades médicas, tais como Clínica Médica, Prevenção de Obesidade na Adolescência (Projeto PROA), Reumatologia, Endocrinologia, Nefrologia, Doenças Infecciosas e Parasitária (DIP), principalmente paciente HIV, Urologia, além das especialidades não médicas, Nutrição, Enfermagem, Odontologia, Serviço Social, Psicologia e Fonoaudiologia.
O eixo norteador da atenção primária é a promoção de saúde e a prevenção de doenças nas populações mais vulneráveis e segue o modelo de atenção hierarquizado e multidisciplinar em consonância com os princípios do SUS. As atividades da atenção primária buscam envolver os adolescentes e jovens nas questões de saúde de suas comunidades, promovendo seu protagonismo, bem como, a criação de adolescentes multiplicadores em ações de promoção de saúde e prevenção de doenças.
A atenção secundária é realizada no Pavilhão Floriano Stoffel, que fica ao lado do Banco de Sangue do Hupe. No Pavilhão, funcionam os ambulatórios. Este nível de atenção tem por objetivo o diagnóstico, tratamento e reabilitação dos principais agravos de saúde que acometem os adolescentes.
Já a Enfermaria Professor Aloysio Amâncio da Silva, nível terciário de atenção do Nesa, é centro de referência para internação hospitalar de adolescentes com quadros clínicos e cirúrgicos que necessitem investigação diagnóstica e tratamento com recursos tecnológicos mais avançados ou mais complexos. Fica localizada no terceiro andar do prédio principal do Hupe. Vale ressaltar, a enfermaria é pioneira em todo o Brasil em sua área de atuação.
Comprometimento durante a pandemia
Andréia Jorge da Costa é enfermeira na atenção secundária do Nesa, e nos lembra que, mesmo nos picos mais elevados da pandemia, os profissionais do núcleo mantiveram-se comprometidos com a causa e, mesmo por meio de ações remotas de atuação, não permitiram a descontinuidade nos tratamentos dos adolescentes atendidos. “Nos momentos mais graves da pandemia, aqui no Nesa, como em todo o hospital, houve suspensão de todas as consultas presenciais, salvo casos emergenciais. Mas em nenhum momento desassistimos nossos adolescentes e a seus familiares. Criamos formas de atuar, ligamos, acompanhamos, orientamos. Aqui, lidamos com residentes e com internos, então, todos os nossos profissionais e estagiários se engajaram, daí criando formas de continuar orientando e assistindo aos adolescentes, principalmente os casos mais delicados, como, por exemplo, aqueles que precisam fazer medicações especiais”, nos conta Andréia.
Além de manter os cuidados e tratamentos, da forma possível durante a pandemia, uma ação, em especial, conectando saúde e solidariedade, também deixou claro os valores que estruturam o núcleo: os profissionais, das diversas áreas, se cotizaram e criaram uma rede interna de auxílio, rede essa que está permitindo o suprimento de cestas básicas, desde o início da pandemia, às famílias mais carentes dos adolescentes assistidos, melhorando assim a qualidade de vida e de saúde dos mesmos neste momento de estreitamentos e dificuldades múltiplas.
O valor da multidisciplinaridade
A médica Cristiane Murad reforça que a adolescência é um período de muitas vulnerabilidades, marcado por intensas mudanças, dúvidas e indecisões, necessitando, portanto, de um olhar especializado e bem aguçado para este tanto de especificidades. “É fundamental a presença de profissionais de saúde que tenham essa percepção e especialização, e que acompanhem o adolescente, não só no aspecto físico, mas emocional, na prevenção ao uso de drogas, na prevenção de acidentes, nas diversas questões envolvendo sexualidade, na avaliação de riscos. É vital também gerar informação validada e multiplicadores, refletir constantemente, divulgar na mídia situações inerentes à adolescência, fazer trabalho com as escolas”, enfatiza a médica, deixando claro um sentido de visualizar constantemente caminhos que orientem e reduzam riscos e agravos nesta fase tão importante do desenvolvimento humano.
A enfermeira Andréia Jorge corrobora a necessidade de se perceber o adolescente como um todo, com suas suscetibilidades, especificidades, com suas demandas de identidade e subjetividade. “É fundamental sim uma escuta aguçada com atendimento por uma equipe multidisciplinar. E o Nesa possui esse diferencial: a multidisciplinaridade. Ela fortalece e qualifica em muito a assistência que ofertamos aos nossos adolescentes”, destaca.
Saúde Integral
Portanto, embora pequena no espaço, a área de compostagem realizada no Nesa tem um grande sentido: manter viva a esperança, sobretudo em tempos tão angustiantes, como os atuais. Espera-se que a horta e todos os adolescentes assistidos através do núcleo tenham um desenvolvimento saudável e uma vida longa e feliz. A ressonância da horta junto aos profissionais que integram a equipe multidisciplinar foi extremamente positiva, com muitos elogios e cooperações à iniciativa dos funcionários da empresa Verde. “A integralidade e sustentabilidade fazem parte do conceito de Saúde Integral, que só é possível com a interdisciplinaridade. E é na Escola que isto se aprende!”, acredita o médico e professor José Augusto Messias, diretor do Nesa. Que as sementes – as plantadas na horta por Damião e Anderson, e as trabalhadas regularmente pela equipe multidisciplinar através da assistência ofertada aos adolescentes – tenham sempre boas condições e gerem frutos de saúde e boa qualidade na vida adulta.
Por Coordenadoria de Comunicação do HUPE