Disciplina Espiritualidade e Saúde amplia perspectiva sobre futuro da Medicina

Novos tempos, novas percepções. Evidências científicas hoje demonstram relação entre espiritualidade e os processos de saúde, como adoecimento e cura. O que compõe, junto dos aspectos físicos, psicológicos e sociais, a denominada visão integral do ser humano. Para estimular a compreensão destes mecanismos, a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCM-Uerj) implantou, no segundo semestre de 2019, uma disciplina eletiva inovadora: Espiritualidade e Saúde. A proposta é ampliar a formação médica, refletindo sobre as múltiplas nuances conceituais que compõem esta temática.

Os coordenadores: Ricardo Bedirian, Roberto Esporcatte e Pedro Pimenta de Mello Spineti (Foto à época da inauguração da disciplina)

A oportunidade é aberta a alunos de Medicina que buscam entender melhor o conceito de medicina integrativa. A visão de integralidade refere-se ao conceito de saúde, não como ausência de doença, mas como completo bem-estar físico, mental, psíquico e espiritual. A primeira turma teve 30 estudantes que aprenderam, entre outras coisas, a fazer anamneses que vão além da análise de doenças e sintomas, novas visões sobre os mecanismos de saúde, adoecimento e cura, assim como abordagens não medicamentosas convencionais.

A disciplina conta com três profissionais responsáveis: o professor Ricardo Bedirian (Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Pedro Ernesto/Hupe), o médico Pedro Pimenta de Mello Spineti e o professor Roberto Esporcatte, ambos do Serviço de Cardiologia do Hupe. São realizadas aulas sobre conceitos de espiritualidade, religiosidade, modo de abordagem e prática com casos reais do Hupe.

“A disciplina foi criada no contexto da reforma curricular da FCM-Uerj”, explica Ricardo Bedirian lembrando que o idealizador foi Roberto Esporcatte. Ele lembra que, desde 2007, Esporcatte tem militado no campo da espiritualidade e saúde. “Na ocasião, Harold Koenig (professor de Psiquiatra da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e um dos principais pesquisadores no mundo sobre o tema) veio ao Brasil a convite de Alvaro Avezum (professor fundador do Grupo de Estudos sobre espiritualidade e religiosidade na Sociedade Brasileira de Cardiologia – Gemca) para falar de espiritualidade no Congresso Brasileiro de Cardiologia. Nós, da Uerj, fomos convidados a fazer parte do Gemca. Isto nos suscitou a ideia da disciplina e nossas ações no sentido de implementá-la na Uerj”, relembra Bedirian. Ele adianta ainda que a ideia é propor a oferta da disciplina para todo o Centro Biomédico da Universidade.

É possível definir espiritualidade?  O professor Roberto Esporcartte ressalta que o conceito pode ser entendido como um conjunto de valores morais, mentais e emocionais que norteiam pensamentos, comportamentos e atitudes nas circunstâncias da vida. “A espiritualidade evoca preocupações, compaixão e uma sensação de conexão com algo maior além de nós mesmos. Consideramos importante que seja compreendida como o que seja passível de mensuração em todos os indivíduos, o que inclui ateus, agnósticos ou mesmo aqueles com afiliação religiosa, porém sem observação e prática da mesma”, explica o professor reforçando ainda a relevância da abordagem desta temática nos tempos atuais e futuros. Tanto para os pacientes quanto na lacuna hoje existente na formação médica.

Aula inaugural, em 2019, da disciplina Espiritualidade e Saúde da FCM-Uerj

Para Esporcatte, estudos recentes atribuem um “efeito protetor” aos indivíduos que alimentam alguma forma de religiosidade. O que têm trazido também contribuições sob a ótica da epidemiologia e as associações entre serviço religioso, mortalidade e qualidade de vida. “É fundamental buscar entender as crenças do paciente; identificar aspectos que interferem nos cuidados de saúde, avaliar a força espiritual individual, familiar ou social que lhe permitirá enfrentar a doença; oferecer empatia e apoio e ajudá-lo a encontrar aceitação identificando situações de conflito ou sofrimento espiritual avaliados por um profissional capacitado”, frisa Roberto Esporcatte. O especialista destaca ainda que, nesta avaliação, torna-se fundamental detectar sentimentos negativos que possam contribuir com o adoecimento, tais como mágoa, ressentimento, falta de perdão, ingratidão.

Medicina do futuro – O escritor e médico cirurgião do Hupe-Uerj, Paulo Cesar Fructuoso, está no sétimo livro com estudos sobre a associação da espiritualidade com a medicina. Ele reforça a relevância das escolas médicas contarem com uma disciplina desta natureza em seus bancos curriculares e acredita que a tecnologia ligada à medicina estará cada vez mais sensível. Fructuoso vai além em suas percepções, indicando que “os médicos do futuro serão médiuns extremamente desenvolvidos, atuando como poderosos epicentros energéticos”, e que trabalharão em parceria com os colegas que estão nos planos espirituais. “Mesmo sem ter conhecimento dessa realidade, nós, médicos, estamos sempre acompanhados e somos intuídos pelos colegas de outros planos da existência. Enquanto cuidamos da parte física, eles zelam pelos corpos energético, vital e espiritual dos pacientes”, considera.

Paulo Cesar Fructuoso ressalta a necessidade de reflexões espiritualistas e científicas para eficiência no cuidado à saúde humana

O cirurgião diz ainda que no corpo espiritual, mais precisamente no perispírito (“envoltório do espírito e que o conecta ao corpo físico”), é que estão a causa de muitas doenças, como o câncer. “Tudo o que fazemos, falamos e pensamos repercute positiva ou negativamente nesse componente. Qualquer ato que gere sofrimento ao semelhante ou prejuízo à natureza promove sua deformação, que será de acordo com o mal praticado. Para reequilibrarmos o perispírito voluntariamente danificado, muitas vezes precisaremos de um corpo físico que atuará como um aspirador das impurezas geradas por nós mesmos, promovendo assim sua reparação”, defende Paulo Cesar Fructuoso. De acordo os estudos de mais de quatro décadas realizados pelo especialista, os médicos do futuro possuirão outros sentidos que os tornarão capazes de exercer com mais eficiência a missão de cuidar da saúde humana. “Tudo que aqui exponho será objeto de profundos estudos nas escolas médicas do futuro e tema de congressos e seminários médicos em todo o mundo”, prevê o cirurgião.

Por Coordenadoria de Comunicação Social do Hupe/Comhupe - 2020