Neuropediatra do Hupe-Uerj é uma das voluntárias da vacina de Oxford contra o novo coronavírus

“O sofrimento da população vira o nosso sofrimento também. Então, pensei: eu posso ajudar”. Guiada por sentimentos de empatia e esperança, Stella Pinto dos Santos, neuropediatra do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe-Uerj), decidiu se inscrever no programa de voluntários que estão ajudando a testar a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) e pelo Laboratório AstraZeneca. Este é o programa mais avançado, até o momento, na busca pela imunização contra o novo coronavírus.

Aos 35 anos, a neuropediatra carioca Stella Pinto dos Santos está entre os 2.000 voluntários no Rio de Janeiro

“Pesquisei bastante sobre a vacina, em que estágio estava, como tinha sido testada em animais, os efeitos colaterais, enfim… Gostei muito dos estudos iniciais e senti que poderia ajudar”, conta a médica que porém não pode afirmar se está imunizada ou não. De acordo com a dinâmica dos testes, os voluntários foram divididos em dois grupos, um que tomou a dose contra a Covid-19 e o outro que tomou uma dose contra a meningite. O método de estudo usado é chamado de duplo cego randomizado, o que significa que os voluntários não sabem qual vacina tomaram. Àqueles que não forem contemplados com o antígeno que tem o intuito de proteger contra o Sars-CoV-2, recebem a ACWY, uma vacina contra meningite que foi incorporada recentemente na rede pública. “Minha expectativa é de ter tomado a vacina da Covid-19 e estar imune. Mas entendo a necessidade do estudo ser cego. A questão é que tenho que continuar agindo como se não estivesse imune. Primeiro, porque posso ter tomado a vacina de meningite e, mesmo se tiver tomado a de Covid-19, ainda não sabemos se realmente imuniza”, conta.

Ela mantém a rotina de cuidados se precavendo ao máximo, tanto no hospital como fora dele, e precisa preencher um diário eletrônico descrevendo sua rotina e possíveis sintomas e reações. Caso a vacina se mostre realmente eficaz, os pesquisadores responsáveis irão vacinar todos os voluntários. “Isso também me deixa mais tranqüila. Comprovada a eficácia, em algum momento serei vacinada. Como trabalho na saúde, isso para mim já é uma enorme vantagem”, diz Stella.

A neuropediatra destaca o diálogo, o acolhimento e o trabalho em equipe como forças imprescindíveis na preservação de vidas.

Sobre a motivação inicial, a médica conta que a inspiração foi seu próprio trabalho. Ela atua na enfermaria de Covid-pediátrica do Hupe. Desde os primeiros casos que chegaram, teve a possibilidade de acompanhar de perto crianças e adolescentes infectados pelo coronavírus. O que fez crescer um firme propósito de tentar diminuir tanto sofrimento. A possibilidade da vacina veio então como verdadeira esperança em um momento crucial para a humanidade.

PROCESSO MINUCIOSO E TRANSPARENTE – Stella lembra que viu o chamado para a vacina em um dos grupos de WhatsApp os quais participa. “Observei que o perfil que eles precisavam para testar era exatamente o meu, ou seja, profissionais de saúde que trabalhassem na linha de frente no enfrentamento à Covid-19; mas que não tivessem desenvolvido a doença, e estivessem na faixa etária dos 18 aos 59 anos”, conta. O próximo passo foi conhecer bem o processo e os possíveis riscos. A partir daí ela efetuou o cadastro no site e, dias após, recebeu um aviso por mensagem dizendo que havia sido selecionada. Recebeu o Termo de Consentimento contendo 15 páginas detalhando todo o processo. “Li o termo, entendi todos os riscos e tudo que seria feito, etapas, número de visitas, coletas de sangue. Assinei e enviei. Eles me convocaram para uma primeira visita, com uma bateria de exames no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino”, relembra. Os exames foram para constatar que a candidata realmente não teve Covid-19 e se tinha a aptidão para a pesquisa; e então ela foi chamada para as fases seguintes. “É um processo bem minucioso, mas muito transparente e eu me sinto muito segura e muito bem orientada em todas estas fases – as já percorridas e as que ainda percorrerei”, completa.

APOIO DE TODOS – Ciente de que é uma responsabilidade e um privilégio poder contribuir com um estudo dessa magnitude, que hoje é uma esperança para o mundo, Stella destaca também o apoio de seus colegas de profissão nesta sua experiência. “Aqui no hospital, a Pediatria se uniu de uma forma incrível e muito motivadora. Todos os setores foram se unindo, tanto ambulatório quanto SPA (sala de pronto atendimento), enfermaria, enfermaria-Covid, o CTI-Pediátrico, CTI-Covid, NESA (Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente), UTI Neonatal… Todos dialogando permanentemente para que os protocolos fossem cumpridos e respeitados. Houve uma unificação incrível e um ganho e aprendizados enormes neste período, bem sofrido, mas muito desafiador profissionalmente”, conclui Stella. Na continuidade do programa ela terá uma consulta em setembro para exames de sangue e avaliação clínica. E será notificada em breve pelos organizadores sobre a segunda dose de vacina. Independente de qual vacina tomou, a atitude de Stella e de todos os voluntários estará nos registros históricos das próximas gerações.

Por coordenadoria de Comunicação social do Hupe/Comhupe - 2020