Além do bisturi: Serviço de Ortopedia do Hupe investe no tratamento conservador da osteoartrite

Dor nas articulações, perda de flexibilidade e diminuição da mobilidade são sintomas comuns em pessoas que sofrem de osteoartrite, que é hoje a principal causa de incapacidade músculo-esquelética na população idosa. Uma doença crônica (não tem cura) e progressiva, a osteoartrite afeta principalmente as articulações dos membros inferiores (quadris e joelhos) provocando grande limitação das atividades diárias.

Dependendo do diagnóstico, há dois caminhos: o tratamento conservador (medicamentos, fisioterapia e perda de peso para aliviar a sobrecarga nas articulações) ou, nos casos graves, a cirurgia de artroplastia (colocação de prótese) passa a ser a conduta terapêutica de escolha. O Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), que é um centro de referência em artroplastia total de joelho, realizou 80 cirurgias do tipo em 2020, mesmo em meio à pandemia. A perspectiva é que 160 pacientes sejam operados nos próximos meses.

Recentemente, o Serviço de Ortopedia investiu na criação de um ambulatório para o tratamento convencional da doença, diante da demanda dos pacientes que são encaminhados à unidade. “O projeto do Ambulatório Multiprofissional de Tratamento do Joelho Osteoartrítico (AMJO) surgiu quando identificamos que cerca de 20% dos pacientes regulados pela Secretária de Saúde que vinham para o tratamento cirúrgico no Hupe, apesar de estarem na fila e terem osteoartrite, nunca tinham tentando o tratamento conservador e tinham a possibilidade de tratar ainda o joelho sem cirurgia. Nós tínhamos duas saídas: ou devolvíamos estes pacientes para a Secretária de Saúde e deixava ele evoluir até o momento da cirurgia, pois é uma doença progressiva, ou acolhíamos este doente aqui no hospital para o tratamento conservador. É um projeto pioneiro já que não há outro hospital no Rio de Janeiro que faça este tipo de absorção”, explica o cirurgião de joelho do Hupe e coordenador do Ambulatório, Fabrício Bolpato.

O diferencial do AMJO é o atendimento com uma equipe multidisciplinar composta por ortopedista, nutricionista e fisioterapeuta. Além disto, as consultas com os três especialistas são realizadas em um dia único para aumentar a adesão ao tratamento e facilitar a logística de deslocamento dos pacientes, já que muitos vêm de outras cidades do Estado.

“Eu tenho uma artrose no joelho e sinto muitas dores. Me inscrevi pelo Sisreg e depois de um tempo fui chamada para ser atendida aqui. Já passei pela Dra. Rebeca hoje, que receitou a medicação. Eu estou amando o tratamento e muito confiante, eles me passaram muita segurança”, relata Ismelina Monteiro, uma das pacientes atendidas pelo setor.

A ortopedista Rebeca Dias esclarecendo as dúvidas da paciente sobre a doença

Muitos pacientes que chegam ao ambulatório nunca estiveram em um nutricionista e sofrem com a obesidade, um dos fatores de risco da osteoartrite. “Esses pacientes precisam controlar ou perder peso para fazer a cirurgia ou para a manutenção desse joelho sem a necessidade da cirurgia. Alguns deles têm dúvidas muito simples sobre os alimentos que são saudáveis e como mudar a alimentação. São pessoas que precisam de uma orientação mais individualizada, mas em uma linguagem simples, que é o nosso maior cuidado. O objetivo é conseguir fazer com que as pessoas de diversos locais do Estado do Rio de Janeiro que atendemos aqui possam entender as orientações de uma maneira simples e que atenda às necessidades deles, além de que também que seja adaptável aos diversos níveis sociais que temos aqui. A maior parte, além da obesidade, tem diabetes ou hipertensão. Então, acaba virando um combo para gente tratar e orientamos a alimentação para tentar ajudá-los de uma maneira integral”, explica o nutricionista Nelson Roig.

Em sua segunda consulta, Ismelina Monteiro ficou feliz em receber do nutricionista a notícia de que havia perdido peso

Para auxiliar ainda mais os pacientes, a equipe do ambulatório preparou uma cartilha ilustrada de exercícios para serem feitos em casa, que são orientados pela fisioterapeuta Luisa Mululo após avaliar a escala de funcionabilidade, o grau de dor e a rotina da pessoa atendida. “Os pacientes chegam aqui normalmente com dor em mais de uma região do corpo, principalmente os mais idosos, e o joelho geralmente é o que mais limita as funções no dia a dia. Por isso, eu oriento as atividades pensando de uma forma mais global. Além dos exercícios de fortalecimento para o joelho, eu indico a hidroterapia ou caminhada. A ideia é que o paciente seja o mais ativo possível dentro das suas limitações e queixas”, conclui a fisioterapeuta.

Durante a consulta, os pacientes recebem a orientação sobre os exercícios que devem ser feitos em casa

Após a primeira consulta, a equipe entra em contato por telefone com o paciente cerca de um mês depois do início do tratamento para verificar se há alguma dúvida. Há ainda consultas de retorno após 2 e 4 meses e, por fim, a proposta é que aos seis meses o paciente retorne e seja decidido se ele receberá alta ou se será encaminhado para cirurgia dependendo da resposta ao tratamento.

A equipe do ambulatório, que já realizou mais de 40 consultas desde o início das atividades em novembro